quarta-feira, 6 de outubro de 2010

a vida é kitsch


Sempre que leio um livro, vou grifando frases que por algum motivo me chamam atenção. Acabo de ler "Paisagem com Dromedário" de Carola Saavedra e relendo minhas marcações, percebi que o livro, apesar de ser um romance, lança em seus diálogos várias questões sobre arte que se assemelham à visão que construí ao longo de dois anos estudando fotografia e frequentando assiduamente exposições, feiras, festivais e bienais de arte.
De volta à cidade onde nasci, encontrei nas palavras de Érika, personagem que narra a história, muitos dos motivos que me trouxeram à vida caipira outra vez. Transcrevo abaixo alguns trechos:

"O que importa não é ter qualquer desenhinho, figurinha, massinha exposta num museu, num livro, ou o meu nome num cartaz, mas outras coisas, coisas relacionadas com a vida e com a banalidade da vida. Sabe, Alex, eu não acredito mais em coisas grandiosas, eu não me importo mais. Sabe, Alex, eu não quero mais que a vida seja algo especial. Eu quero que a vida seja apenas o que ela é."

"Pra mim, a obra de arte ideal seria aquela constituída essencialmente daquilo que o artista não quis dizer, a obra feito um negativo, e da não intenção do artista, do que lhe escapa, do que foge ao seu domínio..."

"Afinal, que mal há viver como todo mundo? A maior parte das pessoas não vive pensando em criar "a grande obra, ou em ter "a idéia genial". Por que teríamos que ser diferentes? Hoje, conversando com Pilar e Carmen, não sei, havia nelas uma força que eu nunca senti em mim, uma força das coisas do mundo, do cotidiano. Eu sei o que você está pensando, você deve estar rindo e pensando que eu,como muita gente que vem morar aqui, estou me sentindo tentada a alguma espécie de volta a natureza, algo meio naïf, meio bom selvagem. Mas não é isso. Começo a achar que a vida é mesmo dessa forma, exagerada e de mau gosto, a vida é kitsch."

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