quarta-feira, 13 de outubro de 2010

louco é quem me diz

Faz quase 8 anos que ela entrou na minha vida e tem sido difícil e fascinante lidar com os altos e baixos dessa trama. É angústia transformada em poesia, dor e beleza ocupando um mesmo espaço. Hoje, mesmo sem encontrar um significado exato pra tudo isso, reafirmo meu compromisso com ela. Talvez, seja desnecessário uma definição.
Enquanto escrevo, um detestável sentimento de culpa me diz que eu deveria estar sentada na cadeira de um emprego seguro, assumido em meio à incerteza e à falta de confiança em mim mesma. Mas não estou, abandonei o barco e ainda nem avisei ninguém. Vão pensar que sou irresponsável, mas só eu sei que o que eu tô sendo é ética. Não posso fazer o que alguém faria muito melhor que eu. Isso sim é pecado, fazer o que não quer, ou melhor, deixar de fazer o que quer. A gente só não é perdoado por trair o próprio desejo. Já não me restam desculpas, não vou mais aceitar cobranças minhas, nem de mais ninguém.
Hoje eu não estou indo pra nenhum lugar diferente, começando outro curso, saindo pra fotografar com uma câmera nova, nem mesmo começando a ler um livro novo. Sentada na escrivaninha do meu quarto, com um frio na barriga como se eu tivesse numa montanha russa, eu tô começando tudo novo de novo.




fotos do trabalho Madness de Claudio Edinger, retiradas do site http://www.claudioedinger.com/

O motivo dessa decisão é uma teia de acontecimentos que não caberiam em texto algum, mas me lembro de um fato que talvez tenha sido uma das últimas influências. Um workshop com o fotógrafo Claudio Edinger (no Paraty em foco, setembro de 2010). De todas as suas palavras, que foram muitas, restaram poucas lembranças; afinal, os dias de festival eram sempre cheios de informação. Além do que minha memória costuma ser mais emotiva que racional. Por esse motivo, não saberia transcrever com precisão o que foi dito ou discutido naquele dia. Mas algo mais subjetivo ficou: a convicção e o amor com que ele contava os seus casos com a fotografia. Já conhecia esse trabalho, cujas fotos estão postadas acima, mas me impressionei quando ele contou que não foi apenas visitar, mas viver no hospital psiquiátrico do Juqueri em São Paulo para investigar e fotografar a loucura. Fiquei pensando nisso e cheguei a conclusão que a paixão dele e também a minha pela fotografía é uma espécie de loucura. Me lembrei de vezes em que me disseram que sou louca por pensar assim, por entregar a vida por causas aparentemente estranhas, mas acho que louco deve ser mesmo quem me diz, e não é feliz, não é feliz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário