sábado, 6 de março de 2010

Nenhuma racionalidade





fotos retiradas do livro Utatane, de Rinko Kawauchi

Depois de ver essas imagens dispostas em duplas, poderíamos contentar-nos em vê-las separadas? Eu responderia que não.
Rinko Kawauchi, fotógrafa japonesa contemporânea, realizadora de um trabalho tão grande quanto simples, sabe de maneira bastante peculiar, construir pares de imagens interdependentes. Em seus livros, a maior parte delas aparecem assim, em dípticos.
Em alguns deles, é possível perceber o diálogo formal que é sempre cheio de graça. Mas, a coisa fica mais instigante quando não somos capazes de explicar o que gera essa interdependência, mas a vemos, a sentimos. Aí, mais que graça, exala um mistério profundo.
Levando o tema a outro lugar, acho que o mesmo acontece nos nossos relacionamentos. Muitas vezes, não sabemos explicar porque queremos estar com alguém ou porque criamos a necessidade de estar com essa pessoa, simplesmente a necessitamos (seja essa uma verdade ou uma mentira cabulosa contada por nós para nós mesmos) e por isso vamos em busca dela e se isso é recíproco, compartimos parte de nossa vida com ela. Está instalada a interdependência, o que não considero ruim, pelo contrário, como seres completamente independentes, seríamos solitários e entediados.
Passada essa fase de busca, quanto mais próxima estiver dos desejos superficiais, mais passageira será essa interdependência, o que tampouco considero ruim. Mas e se com o passar do tempo, esse misterioso querer seguir vivo? Pode ser sinal de que nasceu aí a maior das interdependências, o amor. E aí, começa outra história.
Para mim, os dípticos de Rinko nascem de uma sensibilidade profunda, um sentimento de amor pelo mundo que seus olhos constroem. Por isso, essa conexão tão enigmática entre as imagens. Para elas e para o amor, nenhuma racionalidade.